O Coronel e a Revolução de 30

Coronel Onofre Augusto de Paula

A revolução de 1930 contada pelos moradores de Chácara.

No Arraial de Chácara, à essa época, o chefe do partido Prestista era o Sr. Onofre de Paula, pessoa destemida que chegou a ir para Juiz de Fora onde conseguiu grande quantidade de armas e munições que levou para sua terra onde pretendia organizar a resistência aos insurretos da Aliança Liberal. Num certo domingo os revoltosos chegaram ao Arraial à sua procura, sabedores que eram de sua liderança, porém, não o encontrando circularam pelas ruas recolhendo todas as armas em poder dos transeuntes, aproveitando ainda ocasião para destruir o posto telefônico prendendo o seu chefe, o Sr. Alencar Luna. Em seguida, como era costume, arrebanharam alguns jovens dentre a população, incorporando-os compulsoriamente à tropa. Entre estes, encontrava-se o Sr. Zé Bidico, reservista de primeira e com fama de bom atirador. 

No domingo seguinte, encontrava-se o Sr. Onofre na casa de comércio de secos e molhados "O Barateiro" de propriedade do Sr. Nicolau Falci, Juiz de Paz, quando um senhor conhecido pelo nome de Amadeus desceu a rua principal esbaforido e gritando a pleno pulmões que os revoltosos estavam entrando no Arraial, e já vinham estes atirando para alto causando grande pânico entre a população. Eram uns oitenta soldados, armados e a cavalo, trazendo todos um lenço vermelho no pescoço, símbolo da Aliança Liberal. Comandava-os o tenente Manoel Lacerda. 

Na venda, o Sr. Nicolau, homem sensato e de boa paz, tanto que por sua posição de Juiz de Paz manteve-se o mais possível afastado da beligerância, insistiu com o Sr. Onofre, seu compadre, para que fugisse pelos fundos da propriedade que dava para uma capoeira de difícil acesso para os cavalos. O Sr. Onofre, que na ocasião portavam uma carabina e um bornal com munição, recusou-se a fugir, dizendo que iria enfrentar a tropa. Subindo a rua, ele entrou na farmácia do Sr. Nicolau Mostaro, e ao ver o farmacêutico assustado comentou: "Oh compadre tá precisando de umas gemadas." Em seguida saiu pelos fundos, ganhando a rua do capim no intuito de alcançar o morro em frente onde pretendia entrincheirar-se. Sua fuga foi percebida pela tropa que o perseguiu morro a cima. Quando os soldados estavam já próximos do fugitivo, o tenente Lacerda gritou:

- Pare, para não morrer.

O Sr. Onofre parou, ajoelhou-se e gritou de volta:

- Um homem de coragem não morre pelas costas. Em seguida, engatilhando a carabina atirou. A tropa abaixou-se em posição de tiro e o tenente Lacerda gritou uma vez mais:

- Entregue-se que o Sr. não será judiado. O Sr é um homem corajoso, entregue-se para não morrer.

Ante a recusa do Sr. Onofre que atirava de joelhos, os soldados abriram fogo crivando de balas o corpo do antagonista, que caído no chão ali foram deixado por três dias, insepulto, sob a guarda apenas de seus fiéis cães de caça que afugentavam as aves de rapina. Só no quarto dia, a viúva e familiares conseguiram permissão para sepultá-lo no local, onde permaneceu muito tempo, até a transladação definitiva dos seus restos para o Campo Santo. Durante o tiroteio, correu o boato que aviões iriam bombardear o Arraial, e a população inteira, em pânico deixou suas casas e rumou para as fazendas próximas, tendo se destacado neste episódio o fazendeiro Vespaziano Vieira, que acolheu grande parte da população em sua propriedade. Também os demais fazendeiros e sitiantes procurados foram magnânimo, a todos acolhendo sem distinção de raça, credo ou política. No arraial havia um barbeiro, o Sr. Benjamim Duque, que se recusou a tirar da parede de seu estabelecimento o retrato de Júlio Prestes. Em balde foram os pedidos de amigos e parentes. Quando os revoltosos viram o retrato o Sr. Benjamim foi preso e posteriormente transferido para Rio Novo onde sofreu várias sessões de maus tratos, voltando para Chácara bastante machucado. Não foram poucos os banhos de água de sal que teve que tomar para mitigar seus sofrimentos. O Sr. Nicolau Falci, após o infeliz acontecimento que vitimou seu compadre abriu seu estabelecimento aos soldados que se alimentaram de queijos e biscoitos. Outros estabelecimentos já haviam sidos saqueados por terem cerrados suas portas temendo o pior. Já na venda o Sr. Nicolau, o tenente Lacerda ordenou que fosse feita um relação das despesas efetuadas e um vale, que foi pago após a revolução. Mesmo com a saída da tropa do Arraial, a população só retornou a seus lares uma semana depois.

Os fatos constantes deste episódio, resultam de narrações da Srª. Dona Antônia Falci e do Sr. Camilo Falci, filhos do Sr. Nicolau Falci, à época residentes em Chácara, e feitas ao filho e sobrinho, respectivamente, Carlos Décio Mostaro, membro da Academia Juiz-forano de Letras, infra assinado.

Monumento em homenagem ao cinquentenário - 14/10/1980

O Casamento 

Coronel Onofre Augusto de Paula e sua esposa Adélia

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